sábado, 5 de abril de 2014

A importância dos Sonhos Lúcidos - Parte 4

Parte 4 - Sonhos e o bardo da morte
No Budismo Tibetano, encontramos o termo “bardo” para designar os estados intermediários da existência. Esta palavra tibetana quer dizer “transição” ou “Intermédio”. Tecnicamente falando, os textos budis­tas reconhecem quatro ou seis tipos de bardo, segundo as linhagens. Não há um bardo que seja mais verdadeiro que os outros, logo todos eles são “transitórios” ou “intermediários”.
Costuma-se dizer que o que experimentamos no sono e nos sonhos guarda semelhança com o que experimentamos nos estados de morte e pós-morte; nestes últimos, entretanto, de forma 20 vezes mais intensa que naqueles.
Ken Wilber:
Num certo sentido, a experiência do morrer e a experiência de quase morte (EQM) experimentadas por muitas pessoas e descritas em muitos textos são, na verdade, muito divertidas: relata-se universalmente que, uma vez superado o pavor de morrer, o processo passa a ser pleno de felicidade, de paz e de eventos extraordinários. Tendo-se porém completado a "subida", começa a "descida", ou bardo - e aí é que entra a dificuldade. Porque, ao chegar neste ponto, todas as nossas inclinações cármicas, todos os nossos apegos, desejos e medos aparecem realmente bem diante de nossos olhos, por assim dizer, como num sonho, pois o bardo da morte é uma dimensão puramente mental ou sutil, semelhante a um sonho, na qual tudo o que pensamos surge imediatamente como uma realidade.
Dessa forma, a manutenção da consciência desperta e mesmo o controle da mente quando entramos em sono e durante o sonho (SL) servirá como uma espécie de treinamento para a própria morte, pois podemos obter domínio completo no processo de renascimento pós-morte.
Sonhos e a meditação
Agora fica mais fácil compreender porque as práticas meditativas facilitam o desenvolvimento dos SL - e vice-versa. Como dissemos acima, nos SL exercitamos independência e autonomia frente aos estímulos oníricos, todos eles derivados de nossas pulsões, desejos, temores etc. Ora, a maioria das práticas meditativas procura estabelecer exatamente esse tipo de independência, principiando por exercícios de estabilização da mente e a mera (porém constante) observação dos pensamentos, sensações e emoções (não identificação / desapego). A estabilização da mente – assim como os exercícios de criação autônoma de estados mentais específicos, bem como visualizações, utilizados em muitas práticas meditativas – são inteiramente compatíveis com as práticas de SL.
Na verdade, podemos mesmo considerar que os SL são uma espécie de meditação.
Os SL e a meditação possibilitam um resgate de nossa própria liberdade frente aos condicionamentos impostos por nossa personalidade e auto-imagem adquiridas.
Nas palavras de Ken Wilber:
Toda forma de meditação é, basicamente, uma maneira de transcender o ego, ou de morrer para o ego. Neste sentido, ela imita a morte - isto é, a morte do ego. Quando progride razoavelmente bem num sistema qualquer de meditação, o indivíduo pode atingir um ponto em que, tendo "testemunhado" de maneira tão exaustiva a mente e o corpo, ele realmente se ergue acima da mente e do corpo, isto é, os transcende; "morre", assim para eles, para o ego, e desperta como alma sutil, ou mesmo espírito. E isto é efetivamente vivenciado como uma morte. No zen, é chamado de Grande Morte. Pode ser uma experiência bastante fácil, uma transcendência relativamente tranqüila do dualismo sujeito-objeto, mas também pode ser aterrorizante por abranger vários tipos de morte. Porém, sutil ou dramaticamente, rápida ou lentamente, morre ou se dissolve o sentido de que se é um eu separado, e o indivíduo encontra uma identidade primaz e mais elevada no (e enquanto) espírito universal.

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