domingo, 27 de setembro de 2009

Três novos relatos


O mês de Setembo/2009 foi generoso em experiências. Três delas considero mais interessantes para o leitor do Blog e, por isso, vou postá-las aqui.

1- Uma pequena experiência de Projeção ocorrida em 06/09/2009

Estou começando um outro sonho após a meditação do relaxamento.

No sonho, estou na cama e também em viagem - como na vigília - mas creio que é um lugar de praia.

Também relaxo e medito (no sonho) e uma vibração começa.

Uma música de fundo, meio irritante, acho que é um rock, repete algo como: "Estou entrando na energia...".

A vibração aumenta e sei que não estou na praia, mas, lucidamente, sei que não sei onde estou.

Resolvo interromper o processo e acordar.

Mas o que ocorre é um falso despertar.

Vejo-me acordado, na cama real, porém a vibração continua, para minha surpresa (já que supunha estar acordado).

Um pouco assustado, tento me levantar e, de fato, me levanto, mas a vibração/flutuação continua. Fico ainda mais assustado, imaginando que talvez o "astral" continue descolado, não obstante ter feito tudo para interromper a experiência.

Tento falar com a Ivanise, que dorme ao meu lado, - posso vê-la perfeitamente - mas, para meu desespero, não consigo emitir um som, enquanto que a sensação de flutuação continua !

Agora muito assustado, acabo acordando (de fato), ofegante.


2 - Na noite de 12/09/2009, dois sonhos lúcidos.


Havia meditado antes de dormir, apór ler os ensinamentos de Sri Nisargadatta Maharaj ("Eu Sou Aquilo"). A meditação foi, entretanto um pouco diferente. O relaxamento e o desapego não se direcionaram para um foco definido de cada vez (um pensamento após o outro; ou uma sensação, emoção etc), mas para o contexto todo, o "Eu", incluindo todo o ponto de vista. Há uma sensação de abrangência maior, como se todo o campo visual e também o ponto de vista ficassem incluídos (tal como ocorre na formação do cenário onírico). De uma certa forma, é como se a consciência toda e a percepção como um todo forsse um cenário onírico.

Começa o primeiro sonho lúcido.

Este sonho lúcido começa, creio, quase lúcido.
Estou andando de carro ou bicicleta em uma rua estreita e arborizada. É na Vila Paulicéia, bairro de São Bernardo do Campo, na Grande S.Paulo.
Um ônibus se aproxima, no sentido contrário, e sou obrigado a entrar na calçada para não bater de frente, pois a rua é bem estreita. Na sequência, prossigo no caminho, viro a esquina e vejo que há uma espécie de Clínica ou Hospital, à minha esquerda. Curiosamente, é possível ver os doentes a partir da própria calçada onde me situo. Continuo a andar e, nesse ponto, não me lembro como, já estou ciente de que se trata de um sonho (sonho lúcido).
Vejo que há um edifício decadente à esquerda e resolvo flutuar até seus andares superiores, para explorá-lo. É um edifício pequeno, parece abandonado. Atravesso a janela e começo a verificar o que há dentro dele. Há um armário com muitos pequenos objetos em desordem e procuro examiná-los detidamente, porém acabo acordando.





O segundo sonho lúcido da noite.

Estou com minha irmã em um lugar alto, talvez um edifício, com uma grande janela ao fundo. É noite e vejo um avião em rota descendente, voando muito baixo. Percebo que é um sonho (sonho lúcido) e estico o dedo. Quando o estico, este se parte. Observo curioso a ponta que se partiu e, quando tento recolocá-la na mão, percebo que esta já está inteira novamente !
Mentalmente, "corrijo" a rota do avião, para que não caia.
Resolvo procurar um mestre ou guru para que me dê instruções por meio do sonho.
Ao me ocorrer essa idéia, vejo na rua, mais embaixo, uma figura masculina, semelhante a Jesus Cristo, que me pareceu um tanto estereotipada.
Aproximo-me, mas talvez imbuído dessa suspeita de "farsa", vem à minha mente que há muitos "falsos mestres" e que devo sentir uma conexão direta e íntima, tal como menciona Maharaj em seus ensinamentos.
Em busca do mestre e já bem lúcido, ando pela rua, onde percebo haver muitas pessoas estranhas andando na calçada, alguns me observando. Fico tentado a "puxar conversa", mas estou bem lúcido e continuo em minha busca. No caminho, estico o dedo várias vezes, para me certificar de que ainda estou sonhando.
Entro numa loja e vejo um homem de uns 30 anos que, não sei porque, acredito que possa ser útil em minha busca.
Abordo-o sutilmente, perguntando-lhe se sabe algo sobre sonhos lúcidos. Ele responde que "sim", parecendo intrigado. Digo-lhe que isto tudo é um sonho e acho até que estico o dedo em sua frente. Ele fica impressionado e chama (ou simplesmente aparece) sua namorada, indiana. Ele diz a ela que eu sei muito sobre sonhos lúcidos e ela quer saber mais. Digo a ela que tudo isso é um sonho, mas percebo que ela interpreta essa afirmação no sentido "usual" das escrituras indianas ("toda experiência é um sonho" etc).

Digo-lhe que não, que isso é REALMENTE um sonho e estico o dedo em sua frente, vôo um pouco e afundo no chão ! Ela então diz que vai me apresentar a uma outra pessoa. Digo-lhe que estou à procura de um mestre ou guru e ela diz algo sobre ter que ir a um lugar, no passado. Respondo ou penso que isso vai ser mais difícil.

Ela me pergunta se sei que para ir ao passado deve-se tratá-lo como futuro e que se deve fazer tudo muito lentamente (imaginei, "câmera lenta", slow motion).
Pergunta-me se já sabia tudo isso - como se fosse algo elementar - e respondo-lhe que nunca tinha ouvido falar disso. Ela fica surpresa, pois como seria possível eu praticar então os sonhos lúcidos ? Disse a ela que essa prática começou com a meditação budista. Ela considerou isso insuficiente, concluindo que eu devo ter habilidades pessoais, já que não havia tido um treinamento específico.
Chegamos então até um homem de aparência oriental. Ele me diz que eu deveria ir a um lugar que fica - eu creio - próximo a um restaurante iraniano. Peço-lhe que me dê mais detalhes, e rápido, pois nem sei em que cidade estava e o sonho vai acabar logo.
Quando ele ia responder o nome da cidade, acordo !

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

1ª Experiência de Sonho Lúcido


É com grande alegria que transcrevo abaixo a descrição de uma primeira experiência de Sonho Lúcido, vivida pelo meu amigo, Márcio Alexandre. Sem maiores delongas, gostaria apenas de dizer que, para uma primeira experiência dese tipo, ele já surpreende, não apenas pela duração do sonho, como também pelo grau de lucidez, pela itensidade da experiência em si e, sobretudo, pela articulação com as experiências de meditação e vigília em geral.

Aqui vai sua descrição e seus comentários:


Nesta madrugada de quinta-feira, 24 de setembro de 2009, tive meu primeiro sonho lúcido, talvez desde a infância.

Em conversas sobre sonhos lúcidos com este grande amigo que posta este relato, há alguns meses atrás, decidi me determinar a seguir suas orientações, relaxando/concentrando a mente na hora em que fechasse os olhos. E assim o fiz, noites após noites, seguidamente.

O fato é que após um tempo, comecei a lembrar dos sonhos, o que não acontecia em outras épocas, porém de modo muito fragmentado. Sonhei com professores de prática como Chagdud Tulku Rinpoche e Namkhai Norbu Rinpoche, sonhos que talvez revelavam meus apegos e ilusões não dissolvidas como, por exemplo, o fato de ser constantemente reconvocado para servir o exército. Exército, para mim, significou prisão da expressão do corpo e da mente durante os meus 18 anos, considerando ainda que estudei no meio estudantil em que era frequentemente invadido por informações de pessoas conhecidas que haviam sido torturadas e mortas em decorrência do regime militar.

No último encontro que tivemos, fui recomendado a aproveitar sonhos padrões, os que se repetiam com certa constância, a me ater neles antes de dormir. Comentei sobre o caso do exército e ele disse: - “Ótimo, do que a gente não gosta é melhor ainda para provocar sonhos lúcidos!” E assim, só de conversarmos e tornar o acontecimento onírico consciente, voltei a sonhar na mesma noite sobre o tema. Até aqui, nada de sonho lúcido.

Outra orientação foi a de proceder como em uma lógica de programação (minha interpretação), ou seja, variável sonho ser igual a um absurdo em nosso dia-a-dia. E assim mentalizei que em todo absurdo que aparecesse em minha mente, diria para mim mesmo: - “Isto é um sonho!”; a chave para o despertar.

O Sonho Lúcido

Antes de começar a dormir, posso citar alguns fatos que se destacaram na mente: senti-me profundamente agradecido por ler da página 315 a 320 do livro “Eu Sou Aquilo”, de Sri Nisargadatta Maharaj, tanto que me reverenciei ao conteúdo do mesmo. Este trecho me fez entrar em estado meditativo espontâneo, o que tem ocorrido com freqüência em outras situações também. Uma enorme sensação de bem-estar tomou conta do ser. A seguir, virei o livro e fixei o olhar no olhar da foto desperta de Sri Nisargadatta Maharaj por alguns segundos. Fechei os olhos até ela se dissolver. E fiz a sadhana diária de meditação Dzogchen.

À noite, na prática de Yoga (iyengar & hatha yoga), no savasana, em relaxamento profundo, fixei-me na afirmação “Eu sou”, tendo feito isso em sessões anteriores, inclusive no samkalpa.

Na hora de dormir, nada de especial foi feito a não ser o método recomendado mencionado acima. Pela madrugada, tive um sonho que recordei de algumas imagens fragmentadas; vi-me imerso a histórias como pessoas que estavam doentes, dessas doenças sem curas, e eu sentindo compaixão por elas, no meio delas, compartilhando dessa dor, até que... De repente, surge minha imagem sendo transportada para uma porção de areia com a imagem de outras pessoas reunidas e ondas em sequência prontas para nos atingir de um lado. Quis preservar documentos que ali estavam sobre uma espécie de mesa ou altar de igreja. As ondas não eram ameaçadoras quando aconteciam na fase de criança, período em que tinha uma sequência deste tipo de sonho e que me libertei dela na noite em que decidi, sem medo, deixar a onda me acertar. A onda me acertou, não me fez um dano e nunca mais havia sonhado desde então. Um parêntese é que reavivei a memória comentando deste episódio em nossas conversas de sonhos. Voltando às ondas, eram ondas menores, mas que certamente nos molhariam, estragariam documentos que estava tentando preservar e provavelmente nos levariam para algum lugar. Olhei para outro lado e vinha ondas nos mesmos formatos, cores, texturas e tamanhos. Para outro, também. Neste instante, me veio à mente a conversa que tivemos sobre ondas grandes tentando me pegar na infância e a redenção sobre elas. Aqui, levanto a hipótese de que talvez o fato de sonhar com este padrão, trazido para o consciente durante a vigília e devidamente observado, funcionou como palavra-chave ou senha para me despertar. Pois, assim que me lembrei desta relação onda = sonho de criança = não me machuca, pensei: - “Isso só pode ser sacanagem! Isso é um absurdo, como pode vir onda de tudo quanto é lado? Não, isso é um sonho!” E despertei. Imediatam ente quando ocorreu o fenômeno, disse para mim: - “Agora vou me divertir...” Quando na vigília, penso em usar o sonho lúcido para esgotar tudo que puder criar e descriar nele e observar até vai meus apegos aos desejos, ilusões e medos. Foi um barato ver as imagens se construindo e desfazendo. Logo estava num imenso salão de um castelo medieval. Quando me vi, era do alto (que só aumentava cada vez que olhava a altura – observei se era a altura que aumentava ou o medo que tinha de me jogar nela). Em seguida, fiquei com receio de pular e me machucar, então pensei: - “Isto é um sonho. Quero voar.” Então do saguão testei se voaria mesmo, alcei vôo e aí me joguei daquela altura, controlando o vôo para onde queria ir dentro daquele recinto absurdamente alto. Lá embaixo, pessoas e objetos eram quase do tamanho de uma formiga (talvez, um pouco maiores). Contornei lustres suntuosos acesos repletos de cristais, olhando todo o cenário, repleto de detalhes de arquitetura. As pessoas e objetos estavam parados como se estivessem em animação suspensa.

Lembrei que houve uma interação de sonhos, pois haviam me comentado que era legal experimentar comer vidro. Então, decidi morder um vidro de perfume que minha esposa havia ganho de minha mãe (“Luzes dos teus olhos”, Avon). Quis testar a irrealidade do sonho. Dei uma mordida tímida e fiquei com receio de quebrar os dentes. Parecia que os meus dentes da frente ficaram dormentes, ou melhor, como se não sentisse eles. Pensei: - “Vou espatifar meus dentes com um objeto tão duro!” E imediatamente conclui: “Lembre-se que estou sonhando!” Assim, dei uma daquelas mordidas, ficando com a marca dos dentes no vidro, como em desenho animado, sem o líquido vazar.

Depois fiquei pensando: - “o que mais vou inventar...” O que mais experimentar? Mas aí fiquei sem imaginação. E então, fui saindo do sonho de imagens, a tela ficou escura e entrei num estado de pura escuridão em que meus sentidos estavam alertas. Perguntei-me rapidamente: - “o que está acontecendo? O que estou fazendo aqui? O que é isso aqui?” Nada acontecia nesta fração de sensações, a não ser meus sentidos estavam “ligados”. Então, achei que aquilo não era nada e resolvi acordar. Acordei em estado de êxtase, bem-estar incomensurável, uma sensação de prazer muito grande.

Em relação ao estado de vigília, posso relatar alguns sinais que procuro não dar atenção alguma, considerando que não são os sinais que me interessam mas sim o ir além, reduzindo o grau de apego e desejo mundano, mas que compartilho com vocês: momentos em que espontaneamente se expressa um estado meditativo, seja ao ler o livro do Maharaj, andando, praticando asana, cozinhando...; sensação de expansão do cérebro com a testa se desfranzindo, ficando bem lisa; vibrações internas pelo corpo, pulsações em diversas partes do corpo ocorrendo intensamente (tem horas que parece que não vou me agüentar de tanto que partes do corpo tremem), sons ouvidos em silêncio profundo como se estivesse uma bomba d´água, um motor ligado funcionando a todo vapor. Então é isto, meus amigos, a pedidos, resolvi compartilhar com vocês as experiência que tenho tido. Considero o meio muito interessante para crescermos juntos em vivência, na direção do revelar do estado natural supremo, do amor.

sábado, 19 de setembro de 2009

As várias dimensões dos sonhos lúcidos

Olá a todos,
É com enorme prazer que vos escrevo, agora aqui no Sonhos Lúcidos. A ideia surgiu depois de ter convidado o nosso querido amigo JHolland para participar no Pyr Hermetica. Do convite mútuo, que alias estendo aos restantes contribuídores deste blog, surgiu uma Irmandade da qual sinto uma enorme felicidade de pertencer.
Sendo assim, e como primeiro post, vou relatar três experiencias de sonhos lúcidos que tive, todas elas com utilidade e graus de lucidez diferentes. A ordem dos relatos é do mais recente para o mais antigo. Espero que gostem de ler!



O sonho começou como se estivesse a jogar um daqueles jogos de estratégia à semelhança do Age of Empires III. Embora não tivesse a noção de estar a jogar através de um computador, via tudo a partir de um ponto superior e o propróprio cenário era pixilizado. Estava a construir os primeiros estábulos, a fazer as plantações e organizar as pessoas para recolherem alguns recursos naturais do cenário. A partir de um certo ponto vi-me "lançado" para dentro do jogo e foi nesta altura que apercebi-me que só podia estar a sonhar. De qualquer forma, decidi continuar com o sonho, não numa perspectiva passiva mas activa, se bem que sem controlar o sonho.
Estavamos num monte bastante alto e via-mos a tribo inimiga ao longe. Num discurso emotivo, inflamei os corações de todos os homens para lutarem comigo contra a tribo inimiga porque sabia que iam tentar destruir a nossa população. Quando corria a frente das minhas tropas em direcção ao inimigo, apercebi-me que não tinha espada e, ao pedir a espada de um companheiro meu, ele disse-me: "Se isto é um sonho, tu próprio podes criar uma espada." Acenei e, a partir do nada, fiquei com uma espada na minha mão. A luta acabou rapidamente sem haver uma clara distinção entre quem tinha ganho. De volta ao acampamento, e já de noite, decidi construir uma enorme muralha em pedra para nos proteger-mos. Quando começamos a construir a muralha, via as tochas do inimigo ao longe mas, depois de ter-me distraído apenas uns segundos dando indicações sobre o que fazer, vi que alguns dos membros da tribo inimiga tinham cercado os meus trabalhadores. Curiosamente, embora tenha passado apenas alguns minutos, já era de dia. Junto deles estava o lider da tribo. Ao lembrar-me que era um sonho e, por conseguinte, tudo aquilo eram manifestações de mim próprio, decidi não retaliar mas sim conversar com o lider da tribo inimiga. Mal cheguei perto dele, tentou agarrar-me com um braço mas acabei por prender-lhe (o braço) com o meu próprio braço. Logo de seguida tentou fazer o mesmo com o outro braço mas o resultado foi exactamente o mesmo. Para minha surpresa, senti um terceiro ataque vindo de um terceiro braço mas, como se já não tivesse tido surpresas que chegue eu próprio tinha um terceiro braço. Lembro-me que nessa altura sorri com a situação, claramente onirica, e disse-lhe: "Achas mesmo que vale a pena lutar-mos? Não há terreno para todos?.
Nisto, e para algum descontentamento da minha parte, o meu telemóvel tocou e eu acordei.

Este sonho foi muito importante para mim na medida em que fiz uma reconciliação comigo próprio. O meu primeiro sonho lúcido foi uma autentica experiencia mistica. Para além de ter controlado completamente o sonho tive contacto com o meu Eu mais profundo. Foi a experiencia mais profunda que tive até hoje e desde esse dia que quis voltar a unir-me comigo próprio. Como nunca mais consegui, nem sequer de longe, pensei que pudesse ter sido pela minha atitude dominadora no sonho lúcido. Talvez tenha feito um atentado ao meu próprio inconsciente dominando completamente o sonho.
Penso que neste sonho lúcido a batalha simbolizava precisamente um novo conflito entre mim e o meu inconsciente. Talvez por ter meditado muito sobre isto, no sonho optei pela via da Paz e da união (neste caso, com o meu inconsciente, simbolizado pela tribo inimiga).





O segundo relato é uma experiencia bastante diferente. Ao contrário do sonho anterior, em que tive mobilidade total no sonho, pensava e tinha os sentidos dispertos (lembro-me que as cores eram espetaculares, bem mais vivas do que as da realidade), este sonho foi completamente diferente. Basicamente, nos dois dias anteriores ao sonho estava a tentar fazer uma tarefa no meu emprego que considerava particularmente complexa. Nessa noite, em rigor já era de manhã, sonhei que estava no meu local de trabalho (apenas ligeiramente modificado) a tentar imaginar a solução para o meu problema.
Lembro-me de estar em frente a um quadro branco (que existe na realidade) a fazer alguns rabiscos procurando inspiração (coisa que normalmente faço), quando, de repente, toda a configuração técnica que precisava de fazer começa a surgir na minha mente. Foi neste instante que apercebi-me que estava a sonhar e passei a observar a mim próprio enquanto rabiscava no quadro sabendo exactamente como iria fazer a configuração. Na altura o entusiasmo foi tanto, mais por ter chegado à solução técnica do que própriamente por aperceber-me que estava a sonhar, que tive de lutar para não perder a lucidez. O cenário cada vez começou a ficar mais ténue enquanto lutava para recordar-me da solução. Acordei um pouco frustrado porque, na verdade, já não me recordava da solução técnica que tinha "visto" no sonho. Curiosamente, durante esse dia de trabalho consegui acabar o projecto, se bem que sem poder garantir que foi com a solução do sonho.

Em jeito de reflexão, este sonho foi bastante diferente do outro. Não houve interacção com mais ninguém, o cenário resumiu-se ao quadro sento tudo o resto apenas luz, e o unico sentido que tinha desenvolvido era a minha capacidade mental. Recordo-me que até via (no sonho) particularmente mal. Também ao contrário do sonho anterior que surgiu de forma completamente expontanea, este sonho foi o resultado de um intenso esforço mental e de uma vontade grande de resolver o problema. Parece que fui premiado com as condições ideiais para resolver este desafio mental (ausencia de distracções, condicionamentos físicos e emocionais, etc). Se bem que a um nível muito diferente do sonho anterior, este também foi bastante util e curioso.




O meu sonho lúcido mais antigo foi o que considero ser uma verdadeira experiência mística. Embora já tenha sido à algum tempo, recordo-me perfeitamente dele. O sonho começou comigo a voar no Espaço. Embora fosse escuro, via as estrelas, e parecia voar a velocidade de cruzeiro. Voava sempre em frente e sem grande controlo. Nisto, pensei: "Se estou a voar, é porque estou a sonhar." Mal tive esse pensamento, a minha mobilidade aumentou extraordináriamente. A minha visão aumentou também em igual proporção. Nisto comecei a voar livremente, subindo e descendo e fazendo piruetas, até que pensei: "Se isto é um sonho, posso criar uma espiral azul." De repente, surgiu uma enorme espiral azul no Espaço. Percorria voando livremente e em completo extase. Voltei a pensar: "Se isto é um sonho, posso mudar o cenário." Sem esforço, todo o cenário de sonho mudou. Já não estava no Espaço. Consegui ver o cenário do Egipto faraónico a aparecer. Lembro-me perfeitamente de ver as piramides abençoadas pelo Sol, e foi precisamente aqui que algo se descontrolou. Vi todo o cenário desmoronar-se, sem a minha intenção, e senti-me a flutuar. Foi o primeiro momento em que senti o meu corpo deitado na minha, mas ao mesmo tempo sentia-me a flutuar. Apareceu um novo cenário, algo semelhante a um parque de diversões. Era em tudo identico a qualquer cenário real, com a excepção do céu. O céu era em tons de verde e cor de laranja. Num banco, estava uma senhora sentada pelo que disse-lhe cheio de entusias-mo: "Acabei de ter um sonho lúcido!" (pensava que já estava acordado), mas a senhora não respondeu. Passados momentos adormeci.

Este sonho foi uma das experiencias mais marcantes da minha vida. Foi o primeiro sonho lúcido que tive e foi uma sensação unica. O conteudo do próprio sonho foi fascinante (muito mais do que os outros), mas a minha maior experiencia foi outra. A minha voz no sonho, embora fosse parecida com a que tenho na realidade, era muito mais madura. Irradiava paz e sabedoria. Era como se estivesse acima de tudo o que estava a acontecer, não num sentido egocentro mas sim altruista. Desde essa altura que tenho uma enorme vontade de ouvir, ou Ser, novamente essa voz. Foi, sem duvida, uma experiencia que perdurou muito para lá do sonho.