segunda-feira, 10 de março de 2008

Atravessando o portão - sonho lúcido

Este sonho ocorreu no sábado, 08/03, na parte da manhã. Acordei, tomei café, voltei para cama e comecei a ler um livro. Adormeci por volta das 10 hs e acordei por volta do meio-dia.
Esse foi o sonho mais longo que tive, mas devido a plasticidade onírica, não relatarei ele inteiro apenas o principal:

Estava caminhando por um lugar com muitas plantas e árvores e me deparei com um portão de ferro alguns metros a frente. Já neste momento, tomei consciência de que estava sonhando e disse para mim mesma "Estou sonhando, portanto consigo atravessar através do portão." Conforme fui me aproximando, fui ficando cada vez mais eufórica ante a possibilidade do que estava para ocorrer. Quando finalmente atravessei o portão, fiquei tão maravilhada que quis sair voando e tentei de fato fazê-lo, porém, caí no chão. A partir desse ponto tive diversos outros sonhos não lineares mas em todos estava lúcida e fiz diversos testes para confirmar a lucidez. A experiência foi muito interessante pois nunca havia tido uma "sessão" tão longa de sonhos lúcidos.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Sonho lúcido em terceira pessoa e falso despertar

Nesta madrudaga do dia 05/03/2008 tive um novo sonho lúcido. Para que se possa compreender seu significado e a complexidade da (meta) narrativa, é interessante dizer algo sobre o contexto da noite, nos momentos que antecederam o sono propriamente dito.
Duas noites antes do sonho, em meditação, percebi que uma boa "purificação" e aumento de lucidez seriam alcançados por meio da associação entre o estado de "fluxo caótico inconsciente" - obtido no estado hipnagógico - e aquela meditação em que se cria o observador - "Shamata". Assim, estendendo-se o estado hipnagógico ao máximo e conservando-se pelo menos um mínimo de lucidez, podemos estabelecer um contato intenso com tudo aquilo que nos seduz, nos perturba e nos desestabiliza - justamente a matéria prima dos sonhos em geral. Ora, parece-me que o que impede a lucidez onírica é exatamente essa perturbação íntima, pois nos sonhos vivenciamos com intensidade tudo aquilo que "nos afeta" intimamente. Esse estado de "perturbação" e desequilíbrio tem sua gênese exatamente no estado hipnagógico.
A idéia é, assim, "caçar Carmas" utilizando-se os sonhos: ao começarmos a ser hipnotizados e desestabilizados, acionamos a meditação, por meio da lembrança e da vivência da própria mente (criação do observador). Esse método tem outra vantagem, pois no estado hipnagógico, a frequência cerebral já se encontra alterada, o que nos possibilita uma meditação extremamente poderosa.
Em outras palavras (reproduzo minhas anotações da noite em que essas idéias emergiram):

"deve-se procurar o estado mais hipnótico e sedutor possível e, nesse momento - antes de o sonho acabar de se formar - acionar a mente meditativa. O estado mais hipnótico deve ser buscado por meio da imaginação e pensamentos que promovam maior envolvimento possível, a busca da ilusão e da sedução, acionando-se a inconsciência (caça ao Carma...). Porém, esse processo deve ser acompanhado de uma prática constante de Shamata que nos leve a um poderoso observador (por exemplo: prática diária de meditação focada na respiração e meditação da presença...)."
Posteriormente, vejo que há uma relação entre a proposição acima e a perspectiva budista em relação aos sonhos lúcidos. Como se sabe, esta propõe que acionemos a energia feminina primeiramente para, em seguida, acionar a masculina. (vide para mais detalhes o texto "A Buddhist Perspective on Lucid Dreaming).

Pois bem: na noite seguinte, dia 04/03/2008, não obstante me encontrar bastante cansado, tentei praticar um pouco de meditação focada na respiração. Entretanto, dado que estava exausto, a prática não se prolongou muito, apenas 10 ou 15 minutos. Resolvi então interromper e me entregar ao sono, sabendo que isso me levaria logo ao SONHO. Contudo, procurei, apesar do cansaço, observar o estado hipnagógico se formando...
Algo peculiar, entretanto, aconteceu, pois o sono não chegou tão rapidamente quanto esperava e, ao contrário, percebi que me encontrava particularmente imbuído pela sensação de "vacuidade" das coisas. É como se o "observador" fortalecido pelas práticas das noites anteriores - por meio da meditação - estivesse bem atento e "energizado", ainda que eu me encontrasse fisicamente fatigado e com sono. Esse "observador" não se entregava facilmente à seduçao e não se deixava desestabilizar pelo estado hipnagógico. Bastante tempo fiquei nesse estado e me ocorreu que isso seria propício para a obtenção da lucidez onírica.
Finalmente adormeci.
No meio da noite acordei, após ter tido o sonho que se segue (a descrição é algo confusa, pois, como ficará explícito, o sonho lúcido não foi o último sonho e a lembrança dos detalhes ficou apagada...).
Duas pessoas conversam sobre morte - é um sonho em terceira pessoa. Alguém fala que uma mulher solteira e rica estava para morrer sem aproveitar a vida. Nesse momento, um dos interlocutores - que parece que vai se tornando "Eu mesmo" - pensa:
"- Coitada, pelo menos se ela tivesse sonhos lúcidos poderia aproveitar a vida." - E essa pessoa, que agora sou eu, imagina como seria a mulher tendo sonhos lúcidos e, assim, essa imaginação se converte, no sonho, na própria cena em que Eu estou tendo o sonho lúcido.
O diálogo inicial, em que Eu estava ausente e se desenrrolava em terceira pessoa, converte-se em primeira pessoa, e agora sou eu mesmo que estou sonhando lucidamente ! (como se eu me convertesse na mulher que o interlocutor imaginou tendo sonhos lúcidos).
Interpretando agora essa passagem, é possível que a "mulher que está para morrer sem aproveitar a vida salvo através dos sonhos lúcidos" seja uma referência à perspectiva feminina da própria mente. Se essa interpretação estiver correta, talvez o que o sonho esteja propondo é que os sonhos lúcidos constituem uma excelente via para a parte intuitiva-receptiva da mente viver e entrar em ação !
Agora sonhando lucidamente, estou em uma sala, à noite, com uma grande janela (ou varanda) à minha frente. Como sempre, resolvo voar, muito alto, e vejo toda a cidade iluminada bem abaixo de mim, onde 2 grandes edifícios (blocos retangulares) se destacam. Edifícios envidraçados, com muitas janelas iluminadas.
No meio do vôo penso: é isso que está faltando para as pessoas: terem uma visão panorâmica de suas vidas e de seus problemas, pois cada edifício deste sonho são como fatos importantes ou problemas significativos. Percebo que estou RACIONALIZANDO e o sonho começa ficar turvo. Mas logo afasto esse pensamento e simplesmente vôo sobre a cidade.
Não me lembro bem, acho que pouso em algum lugar, mas não sei o que ocorre em seguida, pois depois HÁ UM FALSO DESPERTAR.
De fato, "acordo" muito excitado e conto meu sonho lúcido para alguém, com todos os detalhes acima, inclusive estabelecendo algumas relações com a meditação etc. Ou seja, durante o "relato onírico" do sonho lúcido, eu atribuo este último à vivência (real) ocorrida antes de dormir.
Digo mais ou menos assim:
"- Cara, eu tinha CERTEZA, CERTEZA ABSOLUTA que iria ter sonhos lúcidos esta noite. Eu estava muito energizado e meus pensamentos não se convertiam em sedução, ao contrário, eu estava muito "consciente da vacuidade" de tudo. Se eu descobrir o mecanismo do sonho lúcido, vou escrever um livro que vai abalar as estruturas."
Minha interpretação aqui é de que o sonho mostrou que a minha ansiedade em obter lucidez onírica é, ela própria, prejudicial à obtenção desta mesma lucidez. Ou seja, o "falso despertar" e a excitação, ainda em sonho, demonstrada na narrativa do sonho lúcido, mostram que essa excitação e ansiedade redundam em um novo sonho - e em um novo mergulho na sedução e na perturbação !
Em seguida - creio que estamos em um Shopping Center ou algo assim. Rumamos para a saída do edifício, mas ao invés de tomar o elevador, escorregamos por meio de canos (tal como o Batman fazia !! - rsrs).
Chegando na garagem subterrânea, penso:
"- Este método de descer é bem eficiente, só que dá direto no subsolo !".
Minha interpretação aqui é de que o sonho fez uma referência ao "atalho" para o inconsciente e as "instâncias subterrâneas da mente" - ou seja, fez referência à associação do estado hipnagógico com a meditação, assim como os próprios sonhos lúcidos já descritos cima.
Então, temos que sair da garagem subterrânea para o térreo. Porém, ainda estou muito excitado com o sonho lúcido e até comento:
"- Foi bem perigoso ter feito a metáfora no sonho entre a vida e a paisagem, pois quase acordo !"
Foi aqui que acordo de fato, em razão de um ruído externo.